Noticia do jornal Siècle, de Havre, França, de 4 julho de 1861 anuncia a morte de Pierre Valin, num hospício ao qual foi levado por ter sido vitima, segundo a notícia, de uma “aberração mental”. É que ele, soldado que lutou na batalha de Solferino e foi ferido na cabeça embora curado, desde então passou a se julgar morto. E falava na terceira pessoa quando a ele se referia. Pobre rapaz, foi morto com um tiro na cabeça em Solferine, era a resposta que dava quando alguém perguntava sobre sua saúde. Jamais se referia como “eu” ou “a mim” mas de “este” ou “isto”. Muitas vezes recusava alimentar-se dizendo que “isto” não tinha ventre.
Na mesma noticia é citado o caso de outro soldado que também falava na terceira pessoa e no feminino. Dizia, referindo-se a si mesmo, “como ela sofre”, “ela está com sede.” No inicio foi advertido que estava falando errado e mostrou-se surpreso no entanto, com o tempo, acabou referindo-se a si mesmo como “ela” o tempo todo.
Esta matéria do jornal Siécle é citada no artigo de Alan Kardec , publicada na Revue Spirite de agosto de 1861 com o título Fenômenos Psicofisiológicos das Pessoas que Falam de si Mesmas na Terceira Pessoa.
Comentando o caso do militar que falava na terceira pessoa do feminino Kardec escreve que “o elemento primitivo do fenômeno é a distinção das duas personalidades em conseqüência do desprendimento do Espírito. É a vaga lembrança de existências anteriores que, no estado de emancipação da alma pode despertar e permitir um olhar retrospectivo sobre alguns pontos do passado. (…) Suponhamos que o homem tenha sido mulher em sua precedente encarnaçao; a idéia que pudesse ter conservado poderia confundir-se com a do seu estado presente.”
Neste caso a “idéia conservada”, a personalidade anterior ou a múltipla personalidade poderia eclipsar parcial ou totalmente a personalidade atual.
Em cada existência um ambiente de relações é criado para a construção de uma personalidade adequada ao projeto de evolução individual e coletivo. E personalidade é a organização que o Eu imprime à multiplicidade de relações que o constitue. Contudo, estando o Espírito submetido a forças tais como a de ação e reação e ainda próximo dos instintos adquiridos no reino animal e não totalmente transmutados ou humanizados, a persona construída nem sempre atenderá as necessidades espirituais ficando fortemente vinculada aos interesses terrenos. Desta forma, quando da perda do corpo físico pelo desencarne a persona criada sob o jugo ditatorial da matéria, poderá se rebelar impedindo a associação ao a gregado humano que é o agrupamento das personas que serão dissolvidas no “cosmo interior”, como a semente se dissolve na árvore que a contém.
Teremos, então, as personalidades psíquicas dissociadas, partes da consciência que não aceitam, e até criticam, outro projeto subjetivo para aquele Espírito. Que, embora contenha em si todas as potencialidades, precisa transformá-las em ato através de relações da alma consigo mesma, ou seja, de escolhas subordinadas a Grande Lei da Evolução.
Quando Kardec escreve que “… a idéia que pudesse ter conservado (de ter sido mulher) poderia confundir-se com a do seu estado presente” mostra a possibilidade real do passado ficar presente, com relativa autonomia, e ser a origem de grandes sofrimentos.
Dr. Lacerda, médico, espírita, ao estudar o desdobramento e elaborar as leis da apometria descobriu que essas “idéias conservadas” podem ser acessadas, hoje temos as pesquisas que Godinho leva a efeito assessorado por uma equipe espiritual dirigida pela Irmã Tereza e Mahaidhana acessando estas “idéias conservadas” que são personalidades múltiplas que podem ajudar ou prejudicar parcial, em diversos graus, ou até inviabilizar um projeto reencarnatório em execução.
O estudo e a pesquisa que levam, ao conhecimento sobre Personalidades Psíquica abre um enorme campo de tratamento das diversas patologias ou doenças da alma.
No caso de Pierre Valin, uma personalidade múltipla talvez revoltada pelo fato da desonra de ser ferido num campo de batalha referia-se a sua ultima versão chamada de Pierrre Valin de “isto” demonstrando, talvez, seu desprezo evidenciado ao dizer que ele, Pierre Valin, já estava morto.Se esta Energia Psíquica Condensada existente no campo psíquico de Pierre Valin passasse pelo campo bioenergético de um médium poderia ser esclarecido, à luz do Evangelho, de que deveria entrar em sintonia com o projeto do Ser Espiritual que na presente encarnação tinha recebido o nome de Pierre Valin.
Personalidades Psíquica podem ajudar o projeto reencarnatório em execução, trazendo as experiências positivas que surgem como intuição para a solução de problemas necessários para a consciência encarnada. Assim, uma personalidade que soube lidar com o poder seria o inspirador caso a persona atual tivesse que exercê-lo num desdobramento necessário a sua trajetória terrena, mas que não seria o objetivo principal da atual reencarnação. Mesmo ainda não tendo se integrado totalmente ao agregado humano tal Múltipla emprestaria, se assim podemos dizer, sua experiência para que a versão atual se saísse bem do que se apresentava no momento.
Seria o caso de Hippolyte Leon Denizar Rivail, homem da Academia, um intelectual, que homenageou uma Personalidade Psíquica chamada Alan Kardec, um druída que muito contribuiu para trazer para a humanidade este manancial de conhecimento chamado Codificação da Doutrina Espírita?
Ruth Barbosa
Filósofa, Psicoterapeuta Reencarnacionista
Hipnóloga Condicionativa e Ericksoniana
Terapeuta de Regressão a Vidas Passadas